A trama - ainda sem nome - se passa no início do século XX, mas os conflitos são bastante atuais. Em sua estreia como autores titulares, João Ximenes Braga e Cláudia Lage, ex-colaboradores de Gilberto Braga e Manoel Carlos respectivamente, escolheram contar a história do surgimento da mulher brasileira contemporânea. No centro do folhetim estão as personagens Isabel (Camila Pitanga) e Laura (Marjorie Estiano).
A primeira, uma ex-escrava que mora num cortiço; a segunda, filha de uma família aristocrática carioca que perde muito dinheiro com o declínio do café. Em comum, as duas têm a personalidade forte de mulheres à frente de seu tempo. A dupla se conhece no terceiro capítulo: elas vão se casar na mesma igreja, uma depois da outra. Ali, desenvolvem uma amizade e cumplicidade que vai permear toda a trama. Do lado antagônico está Constança (Patrícia Pillar), a mãe de Laura. Acostumada ao luxo e riqueza das classes altas, vai se recusar a aceitar as transformações do mundo.
“A Constança não vai ser aquela vilã que faz maldade com sorriso no rosto. Ela realmente acha que está certa e que não é má. Ela acredita no mundo com o qual está acostumada. É racista e não aceita que a filha queira trabalhar porque esse não é o universo dela. Ela perdeu prestígio, se ressente em não ser mais chamada de baronesa”, explica Ximenes.
Edgar (Thiago Fragoso) e Zé Maria (Lázaro Ramos) interpretam os maridos de Laura e Isabel. Zé Maria é o grande herói da história, que, através do núcleo de moradores do cortiço, vai mostrar também o surgimento das favelas do Rio: quando o local onde moram é derrubado para a construção da Avenida Central, eles têm que se mudar para o Morro da Providência.
“Com o Zé Maria, vamos retratar o início da conscientização do movimento negro. Ele faz capoeira e é muito orgulhoso disso, num momento em que a prática era marginalizada. A novela se passa logo após a abolição da escravatura, e esses ex-escravos estão começando a tentar viver na nova realidade”, conta Cláudia.
Foi a paixão pelo início do século XX e personagens como João do Rio, Lima Barreto e Machado de Assis o que aproximou a dupla. João e Cláudia se conheceram na Oficina de Atores da TV Globo, em 2004. Em 2008 resolveram começar a escrever sua sinopse, que foi apresentada para a direção da emissora pouco antes da estreia de “Insensato coração”, de Gilberto Braga, na qual João atuou como colaborador.
“A gente realmente não achava que ia dar em nada. Queríamos mostrar serviço e ganhar um aumento. Mas tivemos um feedback ótimo e começamos a trabalhar na história. Agora, estou morto de medo. Durmo no máximo três ou quatro horas por dia. Imagina: são 40 personagens falando o tempo inteiro dentro da sua cabeça”, brinca João.
Outros temas que serão abordados na trama são a chegada do futebol ao Brasil e os primeiros passos do nascimento do samba. Dividido em duas fases, o folhetim começa em 1904 e, depois, terá um salto de tempo de seis anos. Apesar de ser considerada uma “novela de época”, a nova produção das 18h deve fugir dos estereótipos do gênero.
“Apesar de se passar em 1904, vamos tratar de conflitos bastante contemporâneos, pelos quais as mulheres passam até hoje. Além disso, estamos escrevendo capítulos ágeis. Não vamos nos prender a muitos detalhes de antigamente. Tenho certeza que os historiadores vão chiar. Mas é importante entender que a novela não é um retrato daquela época, e sim uma visão nossa da época”, define João.
Fonte: 24m
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